sábado, 22 de maio de 2010

Em Manaus, o bonde passou

Uma única avenida em Manaus, a Torquato Tapojós, liga o bairro Cidade Nova, com 800 mil habitantes, ao centro. O mesmo problema ocorre para qualquer outra direção de deslocamento: insuficiente quantidade de vias para o trânsito dos habitantes dessa metrópole de um milhão e oitocentas mil pessoas. Afora o centro, não se encontram também em Manaus quarteirões efetivamente quadrados. São, em sua maioria, curvos e têm dimensões bastante variáveis o que indica completa e histórica ausência de planejamento urbano nessa cidade. Para qualquer um em deslocamento, é evidente ser o trânsito dos maiores problemas sob responsabilidade do poder público municipal.

Causa perplexidade também que, às margens do maior rio do mundo, significativa parcela da população urbana sofra com a precariedade ou inexistência do serviço de abastecimento de água.

Foram essas duas demandas, principalmente, que o ex-prefeito Serafim Correa, do PSB, buscou endereçar em seu mandato encerrado em dezembro de 2008. No seu governo, com recursos do PAC, a rede de adutoras foi finalmente estendida para os populosos bairros da zona leste. Havia esperanças que agua encanada seria, enfim, uma realidade em toda Manaus. Foi esse, aliás, o compromisso assumido por Serafim, solitariamente, em debate político na TV entre os postulantes ao cargo de prefeito nas eleições de 2008. Hoje, o vereador Marcelo Ramos denuncía a interrupção desse projeto e a renúncia em sacar os recursos destinados a esse fim.

As realizações do governo Serafim perpassaram o projeto fundamental de universalização do abastecimento de água e abrangeram também a criação de parques públicos, aterro sanitário e obra viária de grande porte que o atual prefeito Amazonino Mendes deu prosseguimento, inaugurando os viadutos do Coroado e a passagem de nível da rua Paraíba. Depõe em favor de Amazonino a continuidade das obras viárias citadas, pois a administração pública deve oferecer solução de continuidade entre gestões, mesmo que de adversários políticos. Suspeita-se, porém, que o atual mandatário irá acomodar-se frente a essa demanda e ao final do seu mandato apresentará como suas apenas essas duas realizações, cujo maior mérito são devidas ao ex-prefeito Serafim Correa que já havia realizado os contratos, projetos e iniciado a execução dos mesmos.

No início de 2008, havia a expectativa que todos setores progressistas da política amazonense uniriam-se para apoiar a continuidade daquele projeto político contra a ineficiência histórica das administrações Amazonino Mendes, cuja responsabilidade com a falta de planejamento urbano em Manaus é inquestionável uma vez que, desde 1983, esse político exerce os principais cargos públicos no estado do Amazonas. Erraram, vergonhosamente, o PT e o PC do B em negando apoio àquela oportunidade e, efetivamente, foram esses partidos que colocaram de volta a gravata no velho coronel.

O resultado é que o povo sofre hoje com o abandono da presente administração e contribuímos para transformar um aliado político e administrador competente num líder rancoroso, capaz até de repercutir em seu blog pessoal os impropérios terroristas de Danuza Leão contra a ex-ministra Dilma Rousseff.

Um grande partido se faz com enfrentamentos, mesmo entre suas fileiras e até contra a recomendação da direção partidária como o fez, recentemente, o PT maranhense que, na contramão da orientação nacional negou apoio ao pleito da oligarquia Sarney em favor do comunista Flavio Dino.

É dever da direção nacional pedir pela renúncia nos estados em favor de composição que lhe dê fôlego para governar sem sobressaltos. É dever da organização partidária local, entretanto, lutar contra tais composições quando essas ferem o princípio basilar com o que são constituídos os partidos ou, no mínimo, vender caro sua adesão.